S. Valentim e o Carnaval

Por : | 0 Comentários | On : Fevereiro 1, 2017 | Categoria : Blogue

caretos - receitas da Tia Céu

Em tempos idos, muito lá atrás, quando os reis e imperadores traçavam os destinos dos povos pela força das armas e os povos apelavam ao Divino da melhor forma que sabiam e podiam, na Roma antiga celebrava-se a Lupercália. Eram os festejos que simbolizavam a purificação da cidade e ajudavam a espantar os maus espíritos, no final do ano ( o ano começava em Março) e Fevereiro era o mês em que começava, oficialmente a Primavera.  Era um tempo de grandes festas, orgias e licenciosidade.

O festival da Lupercália começava no dia 15 de Fevereiro. No dia 14 de Fevereiro, festejava-se também a Deusa Juno. Esta Deusa, para além de ser a rainha de todas as Deusas, era também a Deusa dos casamentos e das mulheres. Assim, duas festividades próximas uma da outra e com conotações que remetem para a juventude, a primavera, o amor, o casamento, só podiam ser festas de grandes exuberância e alegria.

Mas o problema é que a Igreja Católica não via estas festas pagãs com bons olhos. Pois então! Que história é esta de todo o mundo andar abraçados, aos beijinhos e sabe-se lá que mais??, durante dias e dias, sem regras, sem decoro e sem moralidade cristã??

Vai daí o Papa Gelásio, em 494 d.C. proibiu as festividades da Lupercália e, convenientemente, substituiu a designação deste festival pelo dia de S. Valentim. S. Valentim foi um sacerdote cristão e mártir, morto em 14 de Fevereiro de 269 d. C.  Calhou que “nem ginjas”! O santo foi morto depois de se ter descoberto que oficiava casamentos em segredo, desobedecendo à lei que o Imperador Romano Claudius II criou, proibindo os casamentos, afim de angariar mais soldados para as frentes de batalha.

No entanto, nem todos ficaram contentes com esta alteração nos seus costumes e foi necessário fazer mais algumas adaptações: surgiu o período, antes da Quaresma, para comer carne antes da privação e do jejum que começava na quarta feira de cinzas “carne vale”, que significa adeus à carne. A Quaresma, no Cristianismo, era o período de reflexão, oração e privação de carne (e de todos os prazeres associados à carne…).

Assim, “carne vale” tornou-se o nosso Carnaval, com variadíssimas adaptações aos diferentes costumes dos países e culturas. Hoje em dia, um pouco por todo o mundo, o Carnaval é tempo de folia, brincadeira, inversão dos papeis sociais, é o tempo em que tudo é permitido antes do período de abstinência e sobriedade, para os Católicos, que antecede a Páscoa.

É uma festa móvel. Este ano calha a 28 de Fevereiro.

Em Portugal, a primeira referencia ao Entrudo encontra-se num documento datado de 1252, no reinado de D. Afonso III. Temos, como já se vê, uma antiquíssima tradição carnavalesca, que foi entretanto levada para o Brasil, por volta de 1640.

Muito há para vos contar acerca do Carnaval, suas origens, que se cruzam e perdem na história da Antiguidade Clássica, entre Deuses e Imperadores Romanos. E em Fevereiro, celebra-se também o dia padroeiro dos Namorados, cuja origem também tem as mesmas raízes do Carnaval.  Ficará para outras ocasiões e outras leituras.

Quero somente partilhar convosco duas receitas de culinária. Uma é a tradicional Feijoada de Entrudo à Transmontana, pois “No Entrudo come-se de Tudo”. Come-se de tudo menos peixe, porque peixe não puxa carroça. E há que ter as barrigas bem forradas de carnes e feijão para se aguentar não só o frio de Fevereiro como os néctares alcoólicos com que se acompanham estas magistrais feijoadas!  A segunda receita é um miminho para os namorados: Salada do Amor.

Espero que gostem e que se divirtam muito!

Beijo enorme

Tia Céu

 

Feijoada de Entrudo á Transmontana

Valpaços

Ingredientes:

• 1 kg de feijão branco grande
• 400 grs de carne de porco entremeada (barriga) salgada
• 1 orelha
• 500 grs de focinho
• 1 pé de porco (tudo fumado)
• 1 salpicão
• 1 colher de sopa de colorau
• 4 bagas de pimenta preta
• 1 malagueta picante
• sal
• 1 cebola grande
• azeite

Confecção:

Numa panela, põem-se o feijão demolhado de véspera, água para o cobrir largamente e todas as carnes.
Deixa-se cozer tudo, retirando as carnes à medida que forem cozendo.
Limpa-se o caldo da espuma escura.
À parte, pica-se e aloura-se a cebola com o azeite.
Deita-se este refogado na panela onde está o feijão.
Cortam-se as carnes e voltam a juntar-se ao feijão.
Tempera-se com o colorau, a pimenta preta em grão e a malagueta picante cortada em bocadinhos.
Deixa-se apurar sobre lume brando.
Rectifica-se de sal.
Acompanha-se com arroz de forno, servido à parte.
O arroz de forno, como se viu já, como que faz parte integrante das feijoadas – pelo menos das feijoadas transmontanas.

(Recolha no Livro “Festas e Comeres do Povo Português” , Editorial Verbo

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SALADA DO AMOR

Ingredientes:

• 4 metades de pêssego em calda em cubos
• 1 melão pequeno também em cubos
• Gelado de baunilha q.b.
• Canela e gengibre em pó q. b.
• 2 merengues por cada taça
• 200 ml de natas frescas
• 4 colheres de sopa de açucar

Confecção:

Corte as metades de pêssego em calda em forma de pequenos cubos. Descasque o melão e corte-o também em cubos.

Coloque uma colher bem cheia de gelado de baunilha no funde o de cada taça. Depois coloque os frutos em cubinhos, polvilhe com canela e gengibre. Repita as camadas e termine com os merengues desfeitos, polvilhados.

Bata as natas com o açúcar em chantilly firme e decore a gosto. Pode enfeitar com cereja cristalizada, ou pepitas de chocolate ou o que a sua imaginação lhe segredar ao ouvido.

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